Vilarinho

 

História

Data de 1360, o primeiro documento histórico com referências claras a esta região, no entanto, muitos estudiosos apontam-na como terra antiquíssima, anterior mesmo ao povoamento da Lousã. Vilarinho está tão próximo ao nordeste, que tudo indica ter pertencido a uma remota “villa” romana, um pequeno “vilar” dela, logo de formação mais tardia. Todavia, há quem pense que o “villarinho” tenha talvez sido muito posterior à referida vila agrária, sem relação direta com ela, resultado do repovoamento cristão da região conimbricense. A própria toponímia do local não revela manifesta antiguidade, sendo fruto do repovoamento operado na região, entre os séculos IX e X (primeira restauração) e a partir do século XI, mais concretamente durante o governo de D. Sesnando (segunda restauração).

Para além do topónimo Vilarinho são de destacar igualmente os de Sarnadinha, que parece derivar da aplicação geográfica do termo “cernado”, muito usado no Norte entre os séculos XI e XII; Fiscal, antigo local povoado, antes da Nacionalidade, por servos do fisco ou “fiscalinos”, a exemplo do que se encontra no Norte (Vila Frescainha) da primeira restauração, tal como documentos do século X podem comprovar.

Rogela, diminutivo medieval, talvez de “Rochella” (apelido de proveniência Templária, no século XIII).

Cabanões, cuja possibilidade antiquíssima está no mesmo topónimo muito antes da Nacionalidade no chão da atual Ovar, ou Póvoa, que indica repovoamento medievo, já talvez nacional. O Abade de Miragaia, desconhecendo qualquer notícia histórica da Freguesia, refere-se a ela nos seguintes termos: “ Brota nesta Freguesia, na sua extremidade sul e na raiz da grande serra que a limita por este lado, uma nascente de águas férreas, no sítio que chamam Agua Alta, porque a tal nascente cai ali de grande altura, tomando uma espécie de cascata.

É muito medicinal para o tratamento de várias doenças e nunca aumentou com as chuvas no Inverno, nem diminuiu com a seca na estiagem, fenómeno raríssimo e que talvez tenha a sua explicação no facto de brotar a dita nascente de uma rocha puríssima no bojo da grande serra, tomada de rocha compacta, igualmente dura e por consequência difícil de penetrar pela chuva e pelo calor. Em outro tempo, vinham de grande distância, exclusivamente de fora deste Concelho, muitas pessoas fazer uso destas águas; hoje (1880) essa concorrência diminuiu, mas ainda muitas pessoas deste concelho fazem uso delas (1886), bebendo-as na localidade ou conduzindo-as para suas casas em vasos de vidro ou de barro.

Em Vilarinho, há também uma fonte de água potável, digna de menção pela sua pureza e leveza. É talvez a melhor água deste Concelho e a dita fonte denomina-se “Fonte Godinha”. O nome pessoal Godinha, constituiu uma possibilidade de povoamento até ao século XIII, já que, na centúria de trezentos, o uso do mesmo já não se verificava. Fenómenos idênticos parecem associar-se aos topónimos Prilhão, que pode estar relacionado com o nome pessoal Pêro (Pedro); e Reguengo, indicação de propriedade da coroa que, pela sua exclusividade, faz crer que as restantes localidades integravam os bens de vilãos herdadores (cavaleiros ou jugadeiros), ou mesmo de fidalgos e de ordens religiosas, entre elas, a Sé de Coimbra. Para o comprovar, destaca-se, por exemplo o topónimo Casal da Sé, povoação da Sé, povoação formada em torno de um “casal” estabelecido entre os séculos XII e XIV; ou até mesmo o de Casal do Espírito Santo, embora este se apresente mais tardio.

O mesmo Abade dá-nos ainda mais notícias sobre a Freguesia; “ esta paróquia e as circunvizinhas sofreram muito em 1811, nos dias, 14, 15 e 16 de Março, quando por aqui passou de escantilhão” o exército francês de Massena retirando das linhas de Torres Vedras (…) em marcha penosíssima, batido e acossado pelo exército anglo – luso, que o não deixou respirar um momento, obrigando-o a queimar muitos carros de bagagens e perder muita artilharia, muitos muares e soldados na passagem do rio Ceira e do Alva. Não se imagina o que sofreu Massena desde Condeixa até à Ponte da Mucela, principalmente em Foz de Arouce, na passagem do rio Ceira, junto desta paróquia de Vilarinho, que foi literalmente coberta e devastada, bem como todas as paróquias circunvizinhas, pelos dois grandes exércitos.

Embora as informações sejam escassas, a instituição paroquial parece ter ocorrido no século XIII, ou até mais tarde. A sua denominação original seria São Pedro das Moitas, relacionada com a localização da primitiva Matriz, rodeada de frondosos castanheiros.

A sua instituição talvez se deva à catedral conimbricense, uma vez que para além de possuir bens de vulto na região, a Sé detinha o padroado da Igreja. Assim, na transição do século XVII para o XVIII, a Sé de Coimbra apresentava o Vigário de Vilarinho, e mesmo depois da centúria de setecentos, a mesma instituição continuou a apresentar o prior. Em finais do século XIX, para além da Matriz, Vilarinho possuía as capelas públicas de Nossa Senhora das Preces, São Domingos ( ambas na sede da Freguesia, Santo António (Franco), Santa Eufémia (Cabanões), São Bartolomeu (Prilhão), Santo Inácio (Boque), São Sebastião (Fiscal), Espirito Santo (Casal do Espirito Santo), e de Santo Amaro (Rogela).

Relativamente às privadas havia, Nossa Senhora das Dores (Covão), Santa Rita (Reguengo e Fiscal) e São Luís (Freixo).

De salientar que os titulares que correspondem a devoções mais antigas, protegem os lugares, cuja toponímia manifesta maior antiguidade. São disso exemplo, os oragos São Domingos (provavelmente o mártir de Simancas), Santa Eufémia, São Bartolomeu e São Sebastião. Nos casos em que se verifica a coincidência ou concorrência dos factos, o culto religioso pode remontar mesmo a épocas remotas do século IX ao XII.

Vale a pena sempre recordar as personalidades que, tendo vivido ou apenas nascido em Vilarinho, contribuíram para o engrandecimento da sua Terra. São disso exemplo, Manuel Furtado de Mesquita e Távora, capitão de cavalaria na Guerra da restauração, que morreu em combate em Penamacor, a 17 de Fevereiro de 1850; e Vicente Ferrer Neto de Paiva, lente da Universidade de Coimbra (século XIX) e agora mais recentemente o Juiz Conselheiro António da Costa Neves Ribeiro.

Geografia

O Concelho da Lousã é formado, depois de uma extensa zona de montanha e floresta, por uma bacia, tendo por fundo uma planície de terras aráveis e férteis que se estende até, e para lá do rio Ceira, afluente do rio Mondego. Situa-se a escassos 30 Km de Coimbra, capital do distrito e da província da Beira Litoral.

A menos de cinco quilómetros para leste da Sede do Concelho da Lousã, encontra-se a Freguesia de Vilarinho, localizando-se na margem esquerda do rio Ceira, onde algumas das suas localidades se situam no sopé da Serra da Lousã.

A Sede da Junta de Freguesia, constituída por um edifício de construção recente, instalada no lugar de Vilarinho, fica a 50 metros da EN 342, que passa no meio da povoação. Desta, existe o acesso para a Autarquia, tendo como referência no cruzamento, a capela da Sra. das Preces, observando-se no local uma paisagem deslumbrante, que a serra oferece naturalmente.

Sendo uma das Freguesias com maior área do Concelho da Lousã, possui cerca de 2513 hectares, e um grande número de localidades. São elas, Boque, Ribeira dos Casais, Casais, Prilhão, Reguengo, Covão, Ribeira Maior, Cabanões, Vilarinho, Sarnadinha, Povoa de Fiscal, Mó de Fiscal, Quinta de Fiscal, Fiscal, Vinhas de Fiscal, Tapada de Fiscal, Carris, Cruz da Gândara, Bairro do Emigrante, Casal do Espirito Santo, Gândara, Vale, Freixo, Rogela, Favariça e Manguela. Salienta-se no entanto que, estas duas ultimas localidades a maior área pertence à Freguesia da Lousã. O Franco, uma aldeia encravada em plena serra, já não tem habitantes há muitos anos, optando por zonas mais urbanizadas da freguesia, mas que regularmente visitam os seus patrimónios, tendo para o efeito as estradas da serra com uma razoável acessibilidade, embora o pavimento seja de terra. Entre as outras localidades, a ligação rodoviária é de fácil acesso com pavimentos asfaltados, destacando-se na Freguesia nos últimos anos uma grande evolução habitacional e populacional, mais concretamente, nas localidades confinantes à sede do Concelho.